A lenda da Cobra Grande, também chamada de Boiúna, é um dos mitos mais fascinantes do folclore amazônico. Descrita como uma serpente colossal que vive nas profundezas dos rios, lagos e igarapés, ela é considerada guardiã das águas e das riquezas da floresta. Seu tamanho imenso e sua aura misteriosa a tornaram símbolo de respeito e temor entre as populações ribeirinhas.
Em diferentes versões, a Cobra Grande pode ser vista como protetora ou vingativa. Em algumas narrativas, ela defende a natureza e pune apenas os que desrespeitam os rios. Já em outras, é responsável por fenômenos como redemoinhos, enchentes e o desaparecimento de embarcações inteiras. Também há relatos em que a Boiúna assume formas ilusórias, como barcos luxuosos ou até figuras humanas, para atrair viajantes incautos que nunca mais retornam.
A crença em Parintins
Entre as variações, há uma crença bastante conhecida em Parintins. Muitos moradores afirmam que a ilha estaria apoiada sobre o corpo de uma Cobra Grande adormecida. Quando ela respira, seria possível sentir leves tremores no chão, como se a própria terra acompanhasse o movimento do ser mítico.
A história dos gêmeos
Aparece em numerosos contos indígenas. Um deles narra que, em uma certa tribo da Amazônia, uma índia engravidou da Boiúna e deu à luz duas crianças gêmeas. Uma delas, bondosa, ajudava os povos da floresta; a outra, má, atacava embarcações e provocava naufrágios.
Essa narrativa tornou-se célebre na literatura através do poema “Cobra Norato” (1931), escrito por Raul Bopp, que imortalizou a figura mítica no modernismo brasileiro. A obra ganhou destaque internacional, sendo encenada em teatros de diversos países, reforçando o alcance e a importância cultural da lenda.
Simbolismo e importância cultural
A Cobra Grande não é apenas um ser temido, mas também reverenciado. Ela simboliza a ligação entre o povo amazônico e as águas, representando tanto os perigos da natureza quanto sua fertilidade e abundância. Essa ambivalência faz da lenda um reflexo da vida amazônica, em que o homem vive em constante relação de respeito e desafio com a floresta e os rios.
Ainda hoje, a lenda da Cobra Grande permanece viva na tradição oral, nas festividades culturais, na literatura e na arte amazônica. Mais do que uma narrativa de temor, ela é uma representação do respeito à floresta e às águas, refletindo a profunda relação entre o povo amazônida e o ambiente em que vive.