Considerado um dos maiores peixes escamados da América do Sul, o tambaqui é um verdadeiro símbolo da fauna amazônica. Sua importância vai além do tamanho: é essencial para o equilíbrio ecológico, a economia da piscicultura e a culinária regional.
Origem histórica e identidade amazônica
O tambaqui (Colossoma macropomum) pertence à família Serrasalmidae e é o único representante do gênero Colossoma. O nome tem origem no tupi “tambaky”, refletindo suas raízes na cultura e biodiversidade amazônica. Apesar da semelhança com a pirapitinga, é uma espécie distinta em morfologia e comportamento.
A história de sua descoberta científica começou no século XIX, quando exemplares foram enviados de Barcelos, no Amazonas, para Lisboa. Após a invasão napoleônica, esses peixes chegaram à França, sendo estudados por Georges Cuvier, que os classificou oficialmente em 1816. Seu nome científico atual destaca seu porte e estrutura corporal robusta.
Distribuído amplamente na bacia amazônica, o tambaqui é encontrado em rios de águas claras e barrentas. Apresenta hábitos diurnos e maior atividade pela manhã. Vive de forma solitária, formando cardumes em momentos estratégicos, como na migração reprodutiva, quando busca áreas favoráveis à reprodução e alimentação.
Ecologia, alimentação e reprodução
O tambaqui é conhecido por seu papel ecológico como dispersor de sementes. Na cheia, alimenta-se de frutas e sementes das árvores alagadas, colaborando com a regeneração florestal. Um único peixe pode carregar até 1 kg de sementes no intestino, espalhando-as por grandes distâncias ao longo dos rios amazônicos.
Durante a seca, os jovens se alimentam de zooplâncton em lagos de várzea, enquanto os adultos migram para os rios em busca de locais para desovar. Nessas fases, seu comportamento alimentar se ajusta à oferta do ambiente. Já no período de desova, sobrevivem da gordura acumulada durante a cheia, demonstrando adaptação notável ao regime das águas.
O ciclo de vida natural inclui cinco fases e leva de 3 a 5 anos até a maturidade sexual. A piracema marca a migração reprodutiva, essencial para a fertilização e desenvolvimento das larvas. Por isso, o tambaqui é protegido pelo período de defeso, entre outubro e março, assegurando a renovação dos estoques naturais nos rios brasileiros.
Criação comercial e valor gastronômico
Com grande potencial econômico, o tambaqui é a segunda espécie mais criada em cativeiro no Brasil, atrás apenas da tilápia. Sua resistência, hábito alimentar vegetal e facilidade de adaptação tornaram-no destaque na aquicultura, com produção crescente e investimentos em melhoramento genético.
Somente em 2022, a produção nacional alcançou quase 241 mil toneladas, com Rondônia liderando com mais de 57 mil. Estados como Maranhão, Mato Grosso e Amazonas também apresentam forte presença. Pesquisas buscam reduzir o tempo de engorda e eliminar espinhas para atender mercados exigentes no Brasil e no exterior.
Na culinária, o tambaqui é indispensável. Assado, em caldeirada ou como costela grelhada, é presença constante nas mesas amazônicas. Em 2023, um prato com costela de tambaqui venceu um concurso gastronômico nos Estados Unidos, reafirmando sua importância como patrimônio cultural e produto gourmet de valor internacional.