Domingo, 06 de Julho 2025
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Caprichoso Leva o Manto Tupinambá à Arena e à Vigília

Caprichoso exalta o Manto Tupinambá e se posiciona ao lado dos povos indígenas na luta por memória, território e reparação histórica.

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Caprichoso leva o manto sagrado à arena
Caprichoso leva o manto sagrado à arena

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O Manto Tupinambá é um símbolo ancestral do povo Tupinambá de Olivença, que há séculos carrega a força espiritual, política e cultural dos povos originários do Brasil. Tradicionalmente confeccionado com penas vermelhas de guará, o manto era utilizado por líderes indígenas em rituais sagrados. Durante o período colonial, diversos mantos foram levados para a Europa, onde permanecem em museus. Hoje, ele é também símbolo de luta por reparação, pertencimento e retomada dos territórios indígenas.

Nos últimos anos, artistas e lideranças como Glicéria Tupinambá têm liderado a revalorização do manto como corpo, memória e território. Como artista e professora, Glicéria ressignificou o uso desse símbolo com a criação do Manto Tupinambá do Novo Milênio, feito com penas azuis. A nova versão não apenas homenageia a tradição, mas também sinaliza a continuidade da resistência indígena no tempo presente. No vídeo abaixo, Glicéria compartilha a importância do manto como instrumento de cura e reivindicação de direitos coletivos.

Assista: Glicéria Tupinambá fala sobre o Manto do Novo Milênio

Durante o Festival de Parintins 2025, o manto ganhou destaque na arena como um dos momentos mais simbólicos e politicamente impactantes do evento. Tanto o Boi Garantido quanto o Boi Caprichoso reconheceram o valor do manto, trazendo representantes indígenas ao centro da arena. Mas foi o Caprichoso quem conduziu esse momento com a profundidade e a urgência que a pauta exige.

Com o tema “É tempo de retomada”, o Boi Caprichoso deu voz às lideranças indígenas. Em um momento de forte simbolismo, a apresentação foi interrompida para que uma anciã Tupinambá pudesse discursar com o microfone em mãos e pedir, diante de milhares de espectadores, a demarcação das terras indígenas. A frase “Demarcação já” ecoou por toda a arena, em um gesto de coragem e posicionamento político claro. O Caprichoso mostrou que a cultura dos povos originários não deve ser reduzida a alegoria ou entretenimento, mas sim reconhecida como luta viva e contínua.

Durante a apresentação, o Boi Caprichoso encenou um ritual indígena com o objetivo de desmistificar a antropofagia atribuída ao povo Tupinambá. Esse rito reforçou que o suposto canibalismo fazia parte de estigmas coloniais e destacou que na tradição Tupinambá a cerimônia tinha função simbólica, ligada à absorção de virtudes de guerreiros respeitados, e não ao sensacionalismo. O ato teve grande força política e cultural, contribuindo para a reconexão com a verdade originária e serviu para reafirmar a identidade indígena com clareza e respeito.

Vigília do Manto Tupinambá

Ao final do festival, uma comitiva do Boi Caprichoso, acompanhada do próprio boi e de seu tripa Edson Azevedo Jr, participou da Vigília do Manto, realizada no Rio de Janeiro, no museu onde está guardado o manto sagrado trazido da Europa. Os indígenas, no entanto, reivindicam que ele seja devolvido ao território do povo Tupinambá, em Olivença, sul da Bahia. Mais do que uma visita, a presença da comitiva foi o cumprimento de uma promessa: retribuir com respeito e gratidão o apoio simbólico do Manto e de seus guardiões espirituais. A vigília é um espaço sagrado de resistência, onde os Tupinambá mantêm viva a memória de seus ancestrais e exigem a devolução de todos os mantos levados para o exterior.

Vigília do Manto

A participação do Boi Caprichoso nesse movimento foi registrada nas redes sociais com a legenda: “Retomada exige rupturas!”. Na postagem, o Caprichoso afirma que aprendeu com as vozes das parentes Yakuy Tupinambá e Vanda Witoto que é necessário mudar de postura. A decisão dos Tupinambá de virem a Parintins pelo Caprichoso foi retribuída com a ida à Vigília. “Promessa feita é promessa cumprida”, declarou a equipe do boi em um texto que emocionou os seguidores. E finalizou: “A cultura dos povos originários não é folclore e, aqui no Boi Caprichoso, muito menos apenas discurso para comover jurado. Uma vez mais, o Caprichoso sai gigante desse Festival, abençoado pelo Manto e pelos filhos e filhas dele que por/com Ele falam.” A postagem ainda fez um apelo solidário: “Galera azul e branca, o CITO precisa de ajuda para permanecer na Vigília. Por favor, ajude doando para o pix: citotupinamba@gmail.com”.

A presença do Manto Tupinambá no Festival de Parintins, tanto na forma tradicional quanto em sua versão azul do Novo Milênio, é um marco histórico. Mais do que um símbolo visual, ele representa o retorno dos saberes, das vozes e da força dos povos indígenas ao centro das decisões culturais do país. E mais uma vez, Parintins mostrou que a arena do boi-bumbá também pode ser um território de luta, de memória e de esperança.

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